Por que André Lara Resende Merece o Prêmio Nobel de Economia – O Pensador que Desafiou a Ortodoxia Monetária
- Carlos Honorato Teixeira

- 6 de out.
- 3 min de leitura
por Carlos Honorato
Poucos economistas no mundo conseguiram unir visão prática, rigor intelectual e coragem moral como André Lara Resende. Sua trajetória é, ao mesmo tempo, a história da estabilização econômica do Brasil e a história da transformação do pensamento econômico contemporâneo.
📖 O arquiteto do Real
Nos anos 1990, Lara Resende foi um dos formuladores intelectuais do Plano Real, que colocou fim à hiperinflação e devolveu previsibilidade à economia brasileira. Naquele momento, ele ajudou a consolidar uma visão de política monetária e fiscal que seria hegemônica nas décadas seguintes — uma visão baseada em disciplina, credibilidade e estabilidade.
Mas o que faz de Lara Resende um nome digno do Prêmio Nobel de Economia não é apenas sua contribuição ao passado. É a sua coragem de revisitar o próprio paradigma que ajudou a construir, questionando as premissas da ortodoxia monetária que dominou o mundo desde os anos 1980.
💡 O pensador que ousou pensar diferente
Com base em novas leituras de Keynes, Abba Lerner e da Modern Monetary Theory (MMT), Lara Resende propôs algo que poucos ousaram:
“A moeda é uma construção social, não um ativo escasso.”
Essa frase, aparentemente simples, reconfigura toda a lógica da política monetária.Se a moeda é uma criação institucional e não um bem limitado, então o Estado soberano não está sujeito às mesmas restrições de um agente privado. O verdadeiro limite do gasto público não é a escassez financeira, mas a capacidade produtiva e a confiança social.
Em outras palavras: juros altos não combatem inflação estrutural, e austeridade fiscal permanente pode ser um erro trágico em economias com capacidade ociosa.
Lara Resende recolocou o Estado no centro do debate — não como gastador, mas como garantidor da estabilidade e do desenvolvimento.
🌍 Um pensamento à frente do tempo
No cenário internacional, suas ideias dialogam com nomes como Joseph Stiglitz, Paul Krugman, Olivier Blanchard e Stephanie Kelton. A diferença é que Lara Resende aplicou essa reflexão num país emergente, com todas as complexidades de volatilidade cambial, desigualdade e instabilidade política.
Sua obra recente, especialmente os livros Consenso e Contrassenso e Camisa de Força Ideológica, são peças fundamentais para compreender a nova economia pós-2008, marcada por juros negativos, inflação estrutural e Estados redescobrindo seu papel ativo.
🧭 Um economista humanista
Mais do que um técnico, Lara Resende é um pensador público. Ele não fala apenas de números — fala de ética, de responsabilidade social, de civilização.Defende que a economia deve ser instrumento de liberdade e não de opressão. Que o dinheiro deve servir às pessoas, não o contrário.
“A economia é uma ciência moral disfarçada de matemática.”
Essa sensibilidade filosófica o coloca em uma categoria rara: a dos economistas que pensam a moeda como fenômeno social e político, não apenas contábil.
🏆 Por que o Nobel?
O Prêmio Nobel deve reconhecer quem muda a forma como pensamos a economia. Lara Resende fez isso duas vezes:
Como formulador, ao estabilizar o Brasil com o Plano Real.
Como pensador, ao propor uma nova visão sobre dívida, moeda e juros.
Seu legado é tríplice:
Intelectual – pela inovação conceitual.
Histórico – pela contribuição à estabilização.
Humano – pela visão ética e social da economia.
✨ Um símbolo da inteligência crítica brasileira
Lara Resende representa o que o Brasil tem de mais valioso: a capacidade de pensar com autonomia.Em um mundo onde a ortodoxia se confunde com dogma, ele escolheu o caminho da dúvida — e da coragem.
O dia em que o Comitê do Nobel reconhecer sua obra, o prêmio não será apenas dele. Será de toda uma tradição de pensamento brasileiro que insiste em unir razão, sensibilidade e coragem moral.
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