📉 Lucro em Alta, Reputação em Queda: O Outro Lado dos Números da Hapvida.
- Carlos Honorato Teixeira

- 1 de jul.
- 4 min de leitura
Por Carlos Honorato
Economista e especialista em cenários de negócios

O J.P. Morgan recomendou a compra das ações da Hapvida, maior operadora de saúde do país. A avaliação se baseia na melhora dos indicadores financeiros da companhia, como a redução da sinistralidade (68,6%), aumento do ticket médio e baixo nível de endividamento.
📈 Quando o J.P. Morgan aponta o bisturi para a Hapvida
A recomendação de compra das ações da Hapvida pelo J.P. Morgan, com preço-alvo de R$ 60 (mais de 60% acima da cotação atual), é mais do que um mero palpite de mercado. É uma sinalização estratégica de como os grandes players de Wall Street estão lendo os desdobramentos do setor de saúde privado no Brasil — e, mais importante, onde estão apostando o seu capital de risco.
🎯 Rentabilidade e sinistralidade sob controle
O relatório cita a queda no índice de sinistralidade — o percentual gasto com atendimentos em relação ao valor pago pelos clientes. Em termos práticos: a Hapvida está conseguindo entregar saúde com menor custo por cliente. Isso é ouro em um setor pressionado por inflação médica, judicialização e envelhecimento populacional.
📉 Mas e o sistema?
Enquanto o banco americano vê margem e performance, é fundamental perguntar: a que custo isso acontece? A pressão sobre prestadores, o engessamento de coberturas e a integração vertical da cadeia (clínicas, hospitais, planos) geram eficiência, sim — mas também concentração de poder e possível precarização. É a medicina baseada em margem.
🩺 Saúde ou Produto Financeiro?Essa é a provocação central. A Hapvida, assim como outras gigantes do setor, já não é apenas uma operadora — é um ativo estratégico. Vira proxy para fundos e bancos apostarem em “saúde como tese de investimento”, e não necessariamente como bem-estar coletivo.
🚨 E o cenário futuro?
Cenário otimista: consolidação do setor, eficiência operacional e valorização de ativos. O Brasil envelhece, e os grandes grupos colhem essa curva demográfica.
Cenário de risco: judicialização crescente, backlash regulatório (ANS, Cade) e desgaste reputacional pela percepção de “lucro acima da vida”.
💡 Lucro bilionário — a que custo?
A Hapvida divulgou resultados impressionantes: receita líquida de R$ 7,5 bi, Ebitda de R$ 1 bi e desalavancagem. Só que existe um outro lado, menos visível — os sinais de instabilidade na experiência do cliente, acentuados por ações questionáveis nos bastidores.
📊 Resultados Financeiros: números robustos
Receita Líquida: R$ 7,5 bi (+7,3% YoY)
Lucro Líquido Ajustado: R$ 416 mi (↓15,8%)
Ebitda Ajustado: R$ 1,004 bi
Dívida Líquida/Ebitda: de 1,06 para 0,98
Ticket Médio: R$ 284,4 (+9%)
Queda de 70 mil vidas nos planos
Indicam disciplina financeira — mas a que custo?
🏥 Perdão de R$ 866 milhões de dívida com o SUS
Segundo reportagem da revista piauí, a Hapvida acumulava R$ 869 milhões de dívida com o SUS, relacionada a serviços como hemodiálise e cirurgias. A operadora teria judicializado a cobrança da ANS e, em março, por meio do programa “Desenrola Brasil”, obteve o perdão de R$ 866 milhões — valor já reconhecido no balanço de 2024 cn7.com.br+10piaui.folha.uol.com.br+10outraspalavras.net+10pt.linkedin.com.
Um alto servidor da ANS classificou o movimento como “escândalo”: a empresa se livra de dívida bilionária, limpa o balanço e ainda distribui bônus aos executivos — incluindo R$ 67,4 milhões ao presidente piaui.folha.uol.com.br.
Esse tipo de manobra contábil impulsiona os números, mas esconde um fato crucial: os gastos com o SUS foram efetivamente empurrados para o sistema público — e, por tabela, para os cofres do cidadão.
🧭 Reputação em risco: retrato da insatisfação
Dados do Reclame Aqui nos últimos 6 meses:
Reclamações: 11.769
Nota média: 5,83/10
Respostas: 97,3%
Problemas resolvidos: 72,7%
Clientes que voltariam: 67,3%
Tempo médio de resposta: 8 dias e 9 horas
Indicadores que mostram atendimento lento, pouca empatia e baixo índice de fidelização — uma clara falha na equação do cuidado cn7.com.br+2piaui.folha.uol.com.br+2piaui.folha.uol.com.br+2.
⚖️ Disparidade alarmante: lucro versus cuidado

A Hapvida está se beneficiando de:
Aumento no ticket dimensionado pela capacidade financeira do público, não necessariamente aumento de valor percebido.
Redução da rede e cancelamentos, sinalizando economia pela exclusão de sinistrados.
Renúncia de dívida bilionária com suporte do Estado, liberando caixa sem impacto real.
Judicialização massiva, reclassificada como “sinistro” contábil para melhorar margens.
Enquanto isso, o consumidor enfrenta lentidão, insatisfação e sensação de perda de autonomia como usuário.
🔍 Sustentabilidade pede coerência
A Hapvida entregou bons gráficos financeiros — mas sob essa imagem, um modelo pouco sustentável se revela:
Uma empresa que cresce em números, mas encolhe em reputação.
Operadora que limpa balanço às custas do SUS e do contribuinte.
Negócio que lucra, mas fragiliza a confiança dos beneficiários.
Lucro sem reputação é jogo de curto prazo. Saúde sem cuidado é apenas um negócio.
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