Impacto dos 50% do Trump e suas tarifas
- Carlos Honorato Teixeira

- 9 de jul.
- 7 min de leitura

Presidente dos EUA Donald Trump aplicando tarifas ao Brasil
Trumpaço Econômico Político - Trump e suas Tarifas
As tarifas anunciadas por Trump estão gerando fortes repercussões nos mercados globais e podem redefinir o cenário do comércio internacional nos próximos meses. Ao adotar uma postura mais protecionista, Trump pressiona países alinhados ao BRICS e acirra tensões com parceiros tradicionais, elevando os custos de importação e impactando cadeias produtivas inteiras. Para investidores e empresas brasileiras, entender os efeitos das tarifas de Trump é essencial para antecipar riscos, rever estratégias e explorar novas oportunidades comerciais diante desse reposicionamento geopolítico.
As exportações do Brasil para os Estados Unidos em 2024 alcançaram um recorde histórico de US$ 40,3 bilhões, um aumento de 9,2% em relação a 2023, segundo dados da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil). O volume exportado também foi inédito, totalizando 40,7 milhões de toneladas, com crescimento de 9,9%. A indústria de transformação liderou, com US$ 31,6 bilhões (78,3% do total), destacando-se como o principal destino de produtos industriais brasileiros pelo nono ano consecutivo.
Principais Produtos Exportados (2024):
Óleos brutos de petróleo: US$ 5,8 bilhões, principal item exportado.
Produtos semimanufaturados de ferro ou aço: US$ 2,8 bilhões.
Aeronaves: US$ 2,3 bilhões.
Microscópios e similares: US$ 1,9 bilhões.
Óleos combustíveis: US$ 1,7 bilhões.
Outros destaques: café, celulose, carne bovina, sucos de frutas e açúcar.
Desempenho em 2025 (até julho):
No primeiro semestre de 2025, as exportações somaram US$ 20,02 bilhões, alta de 4,4% em relação ao mesmo período de 2024. Em junho, foram US$ 3,36 bilhões (+2,4%).
De janeiro a maio, as exportações atingiram US$ 16,7 bilhões, crescimento de 5%, com destaque para carne bovina (+196%), sucos de frutas (+96,2%), café (+42,1%) e aeronaves (+27%).
No entanto, março registrou queda de 13,3% (US$ 3,27 bilhões), especialmente em petróleo bruto (-90,3%), soja (-61,2%), equipamentos de engenharia civil (-56,5%) e aeronaves (-27,5%).
Até a 1ª semana de julho, as exportações gerais do Brasil (não apenas para os EUA) cresceram 1,3%, somando US$ 171,8 bilhões, mas alguns produtos, como soja e celulose, registraram quedas.
Contexto e Desafios:
Tarifas de Trump: Em 2025, medidas protecionistas dos EUA, como tarifas de 25% sobre aço e alumínio (a partir de 12 de março) e uma tarifa de 50% anunciada para 1º de agosto, impactaram as exportações. Cinco dos dez principais produtos exportados registraram queda em maio, como óleos brutos de petróleo e celulose, devido a tarifas e maior concorrência (e.g., Canadá via USMCA).
Apesar disso, o Brasil mantém competitividade em setores como carnes e sucos, beneficiado pela demanda crescente nos EUA e liderança global.
A balança comercial com os EUA é deficitária para o Brasil desde 2009, com déficit de US$ 1,67 bilhão no 1º semestre de 2025. Em 2024, o déficit foi de US$ 253 milhões.
Projeções para 2025:
A Amcham prevê comércio bilateral robusto, próximo aos recordes históricos, com crescimento do PIB dos EUA (2,8%) e do Brasil (2%) impulsionando a demanda. Setores como agropecuária, indústria extrativa e transformação devem liderar.
Negociações bilaterais, lideradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Itamaraty, buscam mitigar os impactos das tarifas.
Observações:
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China, representando 12% das exportações e 15,5% das importações brasileiras em 2024.
São Paulo lidera as exportações (33,6%), seguido por Rio de Janeiro (17,9%) e Minas Gerais (11,4%). O transporte marítimo é o principal modal (85,6%).

A carta de Trump IMPACTOS
A imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, anunciada pelo governo Trump a partir de 1º de agosto de 2025, pode ter impactos significativos na economia brasileira, com efeitos diretos e indiretos em diversos setores. Abaixo, apresento uma análise detalhada dos possíveis impactos, com base nas informações disponíveis:
1. Impactos Econômicos Diretos
Redução da Competitividade das Exportações Brasileiras:
A tarifa de 50% aumenta significativamente o custo dos produtos brasileiros no mercado americano, reduzindo sua competitividade frente a produtos de outros países com tarifas menores ou isenções, como Canadá e México (via USMCA).
Setores estratégicos como petróleo bruto (US$ 2,37 bilhões exportados de janeiro a junho de 2025), aço e ferro semimanufaturados (US$ 1,49 bilhões), café (US$ 1,16 bilhões), carne bovina (US$ 737,8 milhões) e celulose (US$ 668,6 milhões) serão diretamente afetados.
A Embraer, que exporta aeronaves (US$ 2,3 bilhões em 2024), pode ser uma das empresas mais impactadas, dado o peso do mercado americano.
Queda no Volume de Exportações:
Em maio de 2025, cinco dos dez principais produtos exportados já registraram queda devido à tarifa inicial de 10% e à concorrência (e.g., petróleo com menor demanda e celulose competindo com o Canadá). A elevação para 50% pode agravar essas perdas.
Estimativas apontam perdas potenciais de US$ 12 a 17 bilhões no comércio anual Brasil-EUA, considerando exportações totais de US$ 42 bilhões, com US$ 21 bilhões em tarifas embutidas.
Impacto no Superávit Comercial:
Os EUA têm superávit comercial com o Brasil (US$ 1 bilhão em 2024), mas a tarifa pode ampliar esse desequilíbrio, reduzindo as exportações brasileiras enquanto as importações dos EUA (máquinas, combustíveis) podem permanecer menos afetadas.
2. Impactos Setoriais
Aço e Alumínio:
O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, com US$ 4,1 bilhões exportados em 2024. A tarifa de 50% (elevada de 25% em junho) pode reduzir drasticamente as exportações, especialmente de aço semiacabado, impactando empresas como Gerdau, Usiminas e CSN.
Minas Gerais, líder na produção de aço, será um dos estados mais afetados.
A ausência de cotas de isenção, diferentemente do primeiro mandato de Trump, agrava o impacto.
Agronegócio:
Embora menos dependente dos EUA, o agronegócio pode sofrer com a tarifa em produtos como carne bovina (já taxada em 26,5%, mas com cota esgotada em janeiro de 2025), café e suco de laranja. A CNA considera o impacto “crítico” para 19 produtos agropecuários onde o Brasil é o principal fornecedor.
A demanda reduzida e a concorrência com outros países podem limitar o crescimento das exportações, embora o volume total possa ser menos afetado devido à força do Brasil no mercado global.
Indústria de Transformação:
Setores como aeronaves, materiais de construção, etanol e madeira serão impactados, enquanto commodities agrícolas e mineração, menos dependentes dos EUA, podem ter efeitos marginais.
3. Impactos Macroeconômicos
Desvalorização do Real:
A tarifa pode pressionar o real, elevando o dólar (em 9 de julho de 2025, o dólar futuro subiu 1,76% para R$ 5,58 após o anúncio). Isso encarece importações, aumenta a inflação doméstica e reduz o poder de compra.
O Bradesco estima que uma depreciação de 1,5% no real seria necessária para compensar perdas de US$ 2 bilhões em exportações, com impacto de 0,1 ponto percentual no IPCA.
Inflação nos EUA e Juros:
As tarifas podem elevar a inflação nos EUA, forçando o Federal Reserve a manter juros altos, o que pressiona o financiamento externo do Brasil e limita cortes de juros pelo Banco Central.
Desaceleração Econômica Global:
Como os EUA são a maior economia e importadora global, as tarifas podem desacelerar o comércio mundial, afetando investimentos e estratégias de empresas brasileiras.
4. Impactos Políticos e Comerciais
Tensões Bilaterais:
A tarifa de 50% foi justificada por Trump como retaliação a supostas práticas comerciais desleais, “ataques à liberdade de expressão” e ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF, o que escalou tensões diplomáticas.
O governo brasileiro refuta a narrativa de déficit comercial (os EUA têm superávit) e considera as acusações políticas uma interferência na soberania.
Risco de Retaliação:
O Brasil aprovou um projeto de lei (ainda pendente na Câmara) que permite retaliações comerciais via Camex, como suspensão de concessões ou direitos de propriedade intelectual.
Trump alertou que qualquer retaliação brasileira resultará em tarifas ainda mais altas, criando uma “escada tarifária” que pode agravar o confronto comercial.
Negociações e OMC:
O Brasil busca diálogo bilateral (Itamaraty e MDIC) para negociar isenções ou cotas, como em 2018, e pode recorrer à OMC, embora sua atuação esteja limitada pela paralisia promovida pelos EUA.
A secretária do Agro de Trump tem visita marcada ao Brasil para discutir a balança comercial agrícola, o que pode abrir espaço para acordos.
5. Oportunidades Potenciais
Desvio de Exportações:
A China, que enfrenta tarifas de 54%, pode aumentar importações de produtos brasileiros, como soja, repetindo o observado no primeiro mandato de Trump.
Diversificação de mercados (e.g., Ásia) pode mitigar perdas, embora a concorrência com a China seja um desafio.
Acordo Mercosul-UE:
Tensões entre EUA e Europa podem acelerar o acordo Mercosul-União Europeia, ampliando mercados para a indústria brasileira.
Produção nos EUA:
Trump sugeriu que empresas brasileiras evitem a tarifa fabricando nos EUA, o que pode atrair investimentos, mas exige custos elevados de realocação.
6. Desafios de Longo Prazo
Investimentos e Contratos:
A incerteza gerada pelas tarifas pode paralisar investimentos, empregos e planos de expansão de empresas brasileiras.
A investigação da Seção 301 contra o Brasil (por práticas comerciais e digitais) pode levar a novas sanções.
Impacto em Pequenos Exportadores:
Economias frágeis (e.g., Madagascar, Lesoto) sofreram com tarifas altas, e pequenas empresas brasileiras podem enfrentar dificuldades semelhantes, especialmente em setores com margens apertadas.
Concorrência Global:
Países com tarifas menores (e.g., Reino Unido, Singapura) ou isenções (Canadá, México) podem ganhar mercado nos EUA, reduzindo a participação brasileira.
7. Resposta Estratégica do Brasil
Negociação Bilateral: O governo Lula prioriza o diálogo para evitar escalada, com reuniões agendadas entre Mauro Vieira e o USTR.
Diversificação de Mercados: Buscar novos destinos para produtos como aço e carne bovina, embora desafiador devido à concorrência chinesa.
Foco no Mercado Interno: Absorver excedentes no mercado doméstico pode pressionar preços e margens de lucro, especialmente no setor siderúrgico.
Conclusão
A tarifa de 50% terá impactos significativos, com perdas estimadas de bilhões de dólares, especialmente em setores como aço, petróleo, café, carne e aeronaves. A desvalorização do real, inflação e tensões diplomáticas são riscos adicionais. No entanto, oportunidades como aumento de exportações para a China e o acordo Mercosul-UE podem mitigar parte dos danos. A resposta do Brasil dependerá de negociações eficazes e estratégias de diversificação. A situação exige monitoramento contínuo, dado o risco de escalada comercial e retaliações.


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