Quando o conflito no Oriente Médio bagunça o jogo da inflação global… e o Brasil observa da arquibancada
- Carlos Honorato Teixeira

- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de jun.

Nas últimas semanas, a geopolítica voltou a dar as cartas no mercado financeiro global. Os recentes ataques israelenses a instalações nucleares e militares iranianas não só escalaram o conflito no Oriente Médio, como também dispararam o preço internacional do petróleo.
E como toda aula de macroeconomia nos lembra: petróleo caro é sinônimo de inflação pressionada no mundo inteiro.
O primeiro impacto foi sentido nos EUA. O Federal Reserve, que já vinha enfrentando uma difícil decisão entre cortar ou manter os juros, agora vê a equação inflacionária se tornar ainda mais complexa. A combinação de pressões políticas internas (sim, Trump voltou a cobrar cortes de juros) com choques de oferta externos (via petróleo) deixou Jerome Powell numa encruzilhada que mistura economia, diplomacia e política eleitoral.
A moral da história nos EUA é simples: o Fed vai precisar de mais paciência e, provavelmente, mais tempo antes de iniciar qualquer ciclo de afrouxamento monetário.
E o Brasil nessa história?
Enquanto isso, por aqui, o cenário também é de cautela. O último relatório macroeconômico do Itaú, de junho de 2025, reforça que o Banco Central brasileiro deve adotar uma postura de juros elevados por um período prolongado. A Selic deve permanecer nos atuais 14,75% ao ano até, pelo menos, o início de 2026.
O motivo? Uma combinação de fatores:
✅ Inflação ainda acima da meta (mesmo com revisão para baixo, a expectativa de IPCA para 2025 é de 5,3%) ✅ Mercado de trabalho mais resiliente que o previsto (com desemprego projetado em 6,4%, abaixo da taxa neutra histórica) ✅ Expectativas de inflação de longo prazo desancoradas ✅ Riscos fiscais persistentes, mesmo com receitas extraordinárias temporárias
A inflação de bens industriais está até arrefecendo um pouco, graças à apreciação cambial e à queda nos preços de commodities agrícolas como o milho. Mas, por outro lado, a perspectiva de bandeiras tarifárias na energia e um mercado de trabalho ainda apertado mantêm o viés de risco inflacionário para 2026.
O Real se fortalece… mas com limites
A moeda brasileira tem mostrado força, beneficiada por um dólar globalmente mais fraco frente a emergentes. O Itaú projeta R$ 5,65/USD como taxa média para 2025 e 2026, mas com muita cautela: os déficits em conta corrente ainda preocupam, e a entrada de capital estrangeiro não tem sido suficiente para cobrir o buraco nas transações correntes.
Crescimento? Ligeiramente melhor na segunda metade de 2025
O PIB brasileiro começou 2025 mais fraco, com uma leve desaceleração no segundo trimestre. No entanto, a liberação dos precatórios e o crédito consignado devem ajudar a impulsionar a atividade no segundo semestre. A expectativa é fechar o ano com crescimento de 2,2%, mas com distribuição irregular ao longo dos trimestres.
O que tudo isso significa para quem toma decisão?
👉 Empresas: Preparem-se para um cenário de custo de capital elevado por mais tempo. Modelos de precificação e de funding devem continuar considerando Selic acima de 14% ao longo de 2025.
👉 Investidores: O "grande corte" de juros, tanto nos EUA quanto no Brasil, ficou mais distante. Oportunidades seguirão concentradas em renda fixa e ativos defensivos, com atenção redobrada à dinâmica cambial e aos preços de commodities.
👉 Governo: A margem de manobra fiscal continua estreita. O espaço para políticas anticíclicas está praticamente exaurido.
👉 Consumidor: Prepare-se para um segundo semestre com crédito ainda caro e possível alta nas tarifas de energia.
Conclusão: o mundo está mais volátil, e o Brasil, mais vulnerável do que parece
A combinação de choques externos (Oriente Médio, petróleo, Fed) com as fragilidades internas (inflação, juros, fiscal) coloca o Brasil numa posição de observador cauteloso, mas longe de ser imune aos impactos.
O jogo dos juros, da inflação e do crescimento global ainda está em aberto. E como sempre, o maior risco é subestimar o impacto de eventos externos num país que, apesar de tudo, continua sendo um emergente com vulnerabilidades fiscais crônicas.
Carlos Honorato Economista | Especialista em Cenários Futuros | Planejamento Estratégico
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